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Mostrando postagens de 2013

A felicidade é comezinha

Davi é meu filho caçula. Tem cinco anos, fala pelos cotovelos (ainda bem!) e tem aquela curiosidade voraz pelas coisas do mundo, que é inerente a idade. Hoje de manhã, enquanto eu fazia café, passou por mim na cozinha e disse: -Mãe, é NOJENTO uma moça namorando um velho? -Como assim, “nojento”, Davi? Qual o problema? -Ah, mãe, é estranho. -Estranho por quê? A moça não pode gostar do velho só porque ele é velho? -Ah, mãe, pode sim. É igual no conto de fadas, ela gosta do velho e a fada toca a varinha mágica nele e ele vira moço. -Não, Davi. Não é assim. Se a moça gostar mesmo dele, vai gostar dele de qualquer jeito, velho, novo, feio, bonito, não importa.  Pode ser nova gostando de velho, velha de velho, velha de novo, novo de nova, enfim, não tem problema nenhum. E se a mãe fosse casada com um homem mais velho, por exemplo?  Davi responde aflito: -Não, mãe. Você poderia pegar uma doença! -Davi, velhice não se pega. Velhice não é doença contagiosa. Olha só, quando voc

"O Rei da Cocada Preta"

Nesse final de semana, a revista Veja São Paulo imortalizou, o até então pouco conhecido, Alexander de Almeida. Num vídeo de quase quatro minutos, Alexander dá dez dicas “valiosas” de como tornar-se o “Rei do Camarote”. Entre outras pérolas, é preciso ter carrão, bebida que pisca, mulheres (as bonitas, claro!) e celebridades que, finalizando, agregariam “valor ao camarote”. Sim, eu assisti ao vídeo e, num primeiro momento, confesso que ri do patético que estamos NOS transformando. SOMOS cada vez mais caricaturas de nós mesmos. Alexander tem um olhar inseguro, sua voz é infantil e, decerto, autoestima não é o seu ponto forte. A qualquer momento sairá correndo procurando algum colo que lhe dê abrigo. Sua instabilidade emocional é visível e agora, risível no país inteiro. Seu comportamento é tão grotesco que suspeitam até que ele seja um fake, um personagem. Mas e quanto a nós? Quantas vezes somos ridículos, (nem tão endinheirados ou escrachados como Alexander, é bem verdade) tentando ate

NO OUTUBRO ROSA, A VIDA NO VERMELHO...

Com o  início da campanha internacional Outubro Rosa, que promove a importância da prevenção do câncer de mama, vários posts hoje sinalizavam o evento. Devidamente conscientizada, lá fui eu para uma Unidade Básica de Saúde, no Guarujá, atrás de um dos meus direitos mais primordiais: o direito à saúde. Na primeira Unidade a reação das atendentes é de desconfiança: “Mamografia?” diz uma das moças depois que ela e a amiga se entreolham. “Sim, como eu faço, é aqui?” insisto e elas me indicam outro endereço, outra Unidade. Lá vou eu. Mais atendentes desconfiadas.  Afinal, o que há de errado com a minha pergunta? A moça do arquivo, apesar de ser a responsável pelo agendamento do retorno das consultas, “não sabe me dizer quanto tempo eu levaria até fazer o exame”. Limita-se a dizer que primeiro tenho que passar por um médico em qualquer Unidade Básica de Saúde. E é só. Antes de ir embora, vou até uma sala mais a frente e, finalmente, encontro um funcionário atencioso, disposto a falar.

"ESTRANGEIRA"

   Contra o tempo, corro tentando colocar o corpo, a cabeça e a casa em ordem. Há sempre o hiato na volta porque já não sei exatamente de onde volto. Não me reconheço mais em meus pares, agora tão díspares e igualmente queridos, para sempre amados. Estrangeira onde quer que eu vá, sempre é aqui, em mim, que me encontro, cavucando  meus desencontros, amores, dissabores, alegrias e afins. O cotidiano bate à porta. Não abro, mas ele mete os dois pés na porta e entra. Por que uma empresa imagina aumentar a sua produtividade aumentando em uma hora diária a carga horária de trabalho? Por que a suspensão do carro está fazendo barulho? Por que o gato está tão magro? Por que essa planta murchou? Será que sentiu a minha falta? Bobagem! Nem pessoas estão murchando mais por saudade. Entre meus emails, procuro por aquele que “vai mudar a minha vida”. Eu sei, ele não existe. Provavelmente nunca chegará, mas o gostoso é a espera no portão. Rodo pelas redes sociais e por alguns sites frequent

KEILISTA KARAÍVA - "Garota Estileira"

Quando eu cheguei aqui no Guarujá a sua família foi uma das primeiras que conheci. Curiosamente, você foi sempre a que tive menos contato. Notícias suas só tinha assim, an passant. Sempre voando. Uma hora no Sul, outra em Sampa, outra em Trancoso. Mas em janeiro, quando te levei algumas vezes para a radioterapia em Santos, nos aproximamos. Mesmo com a morte vigiando da esquina, falávamos de vida. Das nossas vidas. Amores, dissabores e planos (e você tinha tantos!): o restaurante, sua filha, um novo amor, talvez voltar a Trancoso, quem sabe? Quem saberia, pelo menos quem ousaria,  naquele momento, pensar na estupidez da inexorabilidade da morte, esse hiato sem fim, desmantelando todos esses planos? Não sei se atropelo o sujeito ali dizendo que “quem tem planos não morre” ou, sei lá, acredito que seja melhor pensar assim que, de fato, você não tenha morrido, mas se libertado daquele corpo doente que não combinava em nada, nada, contigo.  Uma mulher inquieta, ativa, irreverente,

Totens de Areia

Uma das primeiras lições que meu saudoso e sapiente pai me ensinou e eu, como aprendiz dedicada, captei rapidamente é: sempre questione as figuras dos mitos, heróis, salvadores da pátria e afins. A fé cega, sob qualquer aspecto, é campo fértil para os mitômanos, criaturas semelhantes a totens feitos de areia, que não resistem a vendavais constantes. Surgem assim, do nada, atendendo ao clamor de uma população vilipendiada, que esperando noite e dia por algo extraordinário que lhe tire do deserto da aflição, apega-se a qualquer miragem que apareça. Na Câmara  Municipal do Guarujá, o guardião da moralidade e dos bons costumes do momento se apresenta na figura do Presidente  que, num arroubo ético sem precedentes, apropriou-se do título de “o novo caçador de marajás”, e acabou com os super salários de alguns funcionários da Casa. Atitude louvável, sem dúvida, não fosse o fato desses super salários terem sido aprovados pelos vereadores, inclusive por ELE MESMO, no apagar das luzes da legi

"Não tenha medo, vai chegar"

Segundo dados do IBGE, os idosos- pessoas com mais de 60 anos- já somam 23,5 milhões de brasileiros, e a tendência é que cheguemos a 2050 com esse número triplicado, ou seja, 64 milhões.   Apesar dos avanços na área médica, na indústria de remédios e na melhoria da alimentação garantirem a longevidade, não necessariamente garantem a tranquilidade merecida a quem chega nessa faixa etária.  Os problemas são muitos (acessibilidade, assistência médica, exclusão social) e alguns segmentos da sociedade ainda não estão adaptados para atender a demanda, tornando a inserção do idoso, com suas qualidades e limitações, um verdadeiro desafio.  Alguns empresários mais antenados saíram na frente e reconhecem na mão de obra do idoso um diferencial. Se por um lado não têm mais a agilidade de outrora, por outro, são mais atenciosos, concentrados e pontuais. Já existe um incremento de 70% de idosos no mercado de trabalho, segundo o superintendente do Ministério do Trabalho.    De olho nessa

"SEU JORGE ESTÁ DORMINDO NA MINHA PORTA!"

"Tem o Brasil que é lindo outro que fede o Brasil que dá é igualzinho ao que pede" Seu Jorge chega só para dormir. Pelo menos tenta.Nunca pede nada. Se ajeita no papelão e nos poucos trapos sujos que carrega consigo. Sim, há um mendigo dormindo na minha porta, sob meus olhos. Converso com ele. Pergunto porque não procura o abrigo da prefeitura. Ele me diz que já esteve por lá mas não gostou, que se vira melhor na rua. Diz também que "era bem de vida". Que perdeu tudo quando colocaram fogo no seu barraco. Começa a chover. Chuva forte que incomoda. Não menos que saber que Seu Jorge está lá fora encharcado. Abro o armário e pego uma dessas capas de chuva, compradas para dias de jogo em estádios de futebol. Será que Seu Jorge já foi a algum jogo? Penso abobalhadamente, enquanto digo para o homem ali deitado: "Seu Jorge, levante os braços. Isso! Agora a bunda, Seu Jorge..." (a boca banguela se escangalha de rir). Os meninos passam por ele e o cumprimenta

"AS ROSAS ACEITEM..."

Hoje, nós mulheres, receberemos rosas. Aceitem. As rosas aceitem. Mas não aceitem a invisibilidade, a anulação, a violência física e psicológica, a submissão. Não aceitem o machismo, a misoginia, a ditadura da moda, do corpo perfeito, o padrão. Não aceitem menores salários, piores cargos, assédio sexual e moral, a desvalorização. As rosas aceitem. Mas não aceitem a falta de assistência social, de políticas públicas, a negligência, a omissão. Não aceitem a piada da “loira burra”, da “vaca que dá bom dia”, da amiga traiçoeira e invejosa,  a humilhação. Não aceitem a "rainha do lar", pais ausentes, faxina, louça, fogão, a falta de colaboração. As rosas aceitem. Mas não aceitem quem não respeita individualidade, autonomia, espaço, vontade, desejo. Não aceitem quem nos quer metade, laranjas, castradas, caladas, menores, feridas, MORTAS.  Mas as rosas aceitem... ou NÃO!

FAMOSOS PORQUE IMPORTANTES, OU IMPORTANTES PORQUE FAMOSOS?

“No futuro todos terão seus quinze minutos de fama”. A frase “profetizada” pelo artista plástico americano, Andy Warhol, nunca foi tão precisa. Na era da superexposição, celebridades instantâneas se proliferam como bolhas de sabão e estamos cada vez mais exibidos.  Conectados. Plugados. Com a vida por um fio (ou não, nos casos de conexão WI-FI), queremos ver e, principalmente, ser vistos, o que na maioria das vezes, relega a segundo plano a preocupação com a qualidade do que será oferecido à apreciação pública (ok, a triagem fica por nossa conta)  Nas redes sociais temos seguidores que vigiam ações alheias pontualmente com uma curiosidade voraz, saciando a vaidade de quem produz conteúdos específicos para atender a um público exigente em relação às novidades, sejam elas quais forem (fato que, sinceramente, me causa estranheza. Conheço histórias escabrosas de um passado recente, onde, ser seguido e vigiado o tempo todo era o que as pessoas menos queriam). A verdade é que tudo vira

"A MÃE DA REVOLUÇÃO"

     Apesar de ter nascido sob um regime ditatorial, ela não se intimidou.  A  omissão seria a opção mais provável para quem vivia numa situação privilegiada em relação à maioria da população, mas ela fez uma escolha diferente. Foi à faculdade, tornou-se mulher, esposa, mãe e, ainda assim, nada disso calou a inquietação que sentia. Queria mais, queria a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa, queria o módico direito de “usar um celular” e a utopia de derrubar um governo que há mais de 30 anos estava no poder.      Mesmo que houvesse convicção, sabia que o caminho escolhido não seria o mais fácil. Com a família ameaçada,  tentativas de submissão e até mesmo de assassinato, contrariou as expectativas e fez da repressão  o combustível primordial para  o aumento do seu engajamento político.  Foi às ruas, participou e organizou protestos, foi presa por diversas vezes, e tornou-se um dos maiores ícones na luta contra um governo opressor, sobretudo legitimada pelo seu povo, ao qu

"O PAPA NUNCA FOI POP!"

E eis que, em plena segundona de carnaval, momento sagrado para muitos de nós brasileiros (desculpem a heresia), o Papa Bento  XVI anuncia que vai renunciar ao seu papado, alegando razões de saúde, ou melhor, falta dela.  Mas ao que tudo indica e corre a boca grande nos corredores do Vaticano, o motivo real de sua saída seria o xeque mate que o pobre Pontífice levou antes mesmo de entregar a Tiara Papal quando partisse para a Glória (Glória? Vai saber...).   Se de um lado, o PAPA se viu encurralado por várias denúncias de corrupção, leniência com os casos de padres pedófilos, e o aumento significativo de vários grupos pedindo a modernização da Igreja Católica , como por exemplo, o movimento   Pfarrer-Initiative (Iniciativa dos Párocos) na Áustria, onde, centenas de padres assinaram um manifesto requerendo, entre outras coisas, a  comunhão para os divorciados e a ordenação de mulheres, por outro lado, aquele lado que deveria lhe dar apoio, a ala (não a de escola de samba, por

Pérola do Atlântico aos Porcos?!

Ainda que eu me esforce, continuo achando, no mínimo, "pitoresco" o ouriçamento dos "cidadãos de bem, honestos, pagadores de impostos, que chegaram até onde chegaram através de muito trabalho e mérito" no que se refere a recente onda de "invasão" de moradores de rua, drogaditos e afins, aos locais (ditos) nobres da cidade do Guarujá. E agora? A tão sonhada PAZ que compraram a peso de ouro (exposto nos carnês do IPTU) está ameaçada!! Segundo dados da FGV (Fundação Getúlio Vargas), Guarujá vem numa curva descendente de desenvolvimento social há, pelo menos, uma década. São mais de cem favelas, terrenos invadidos, comunidades carentes de aterramento sanitário, água e luz, tráfico dominando favelas e banalizando a morte. Isso sem contar os péssimos índices no Ideb, na área de educação, a carência no atendimento público de saúde, o número elevado de mortalidade infantil (um dos maiores do estado), o desemprego entre os jovens chegando aos 42% e, estatísticas so

"DEIXEM ELA MORRER EM PAZ!"

Quando entro na enfermaria, vejo que a pessoa a quem fui visitar está bem. Ao lado dela, outra mulher. Parece grávida. Pergunto o que há e recebo a resposta de que não é “problema com a gravidez”. Ela tem um tumor, ela tem metástase e ela não tem mais vida. É uma paciente classificada como terminal. Vomita sem parar. Quase desfalecida, agoniza ao lado de um marido apático. Impotente diante da morte? Conformado? A cena incomoda. Me incomoda. Muito. Não pela doença, não que seu martírio me ofenda. É a impotência que me corrói. O sofrimento dela me corrói. A dor dela me dói...  Na sala de enfermagem pergunto se alguém pode fazer algo por aquela mulher e uma das primeiras perguntas que me fazem é se “sou sua acompanhante”. Por quê? A resposta seria diferente? Num tom burocrático, a enfermeira me explica que o caso dela é terminal, que já comunicou a família, que o médico já medicou e disse que “a deixassem morrer em paz!” Insisto. Não seria o caso de uma UTI? “Filha, não podemos fazer mais

C'est Fini

Começamos no fim Pra não ter nunca mais que acabar. Paramos no meio sem saber aonde ia dar. Terminamos ansiosos, buscando recomeçar.   Eu aqui... ...você acolá.