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Mostrando postagens de agosto, 2019

ILHA

"Não me encha de flores de filhos nem de fados Não me ofereça prendas nem bodas E não me envolva com esses mil abraços de me impor limites Eu não sou seu continente E não me venha com esses aviões em esquadra sobrevoar meu território Não despeje suas bombas sobre minhas vilas e Nem tente invadir minhas normandias Eu não sou seu continente Não invente capitanias e não desenhe mapas com esse vinco no lençol de linho pra demarcar minhas superfícies Não proponha tratados com letras do tamanho de formigas nem pactos nem acordo de paz nenhuma Eu não sou seu continente Não ultrapasse minhas fronteiras não exploda minhas pontes não tente arapucas artefatos bélicos minas terrestres Não subestime minhas trincheiras Eu não sou seu continente Não quero sua catequese nem sua crítica nem sua nota nem sua poda Nem seu afago nem esse beijo de dizer amores que me deixa muda Não planeje embargos nem emboscadas Não queira ocupar meus peitos nem meus pátios Eu não sou seu contine

Um tangaço para o meu pai!

Quando eu era menor, pequena nunca fui, lembro do meu pai debruçado na vitrola ouvindo ópera, quando não, tango. Mas não era só ouvindo. Ele vivia todas aquelas árias. Uma sofrência só. Isso quando não batucava saleroso os refroes dos tangaços preferidos. Às vezes pegava o violão e me chamava pra ouvir " qué bonitos ojos tienes debajo de esas dos cejas" e que eu entendia "debajo de sete quedas" e não via sentido algum. Cachoeira? Catataratas? Lembro também da gente discutindo os editais do Jornal do Brasil madrugada adentro, filosofando sobre a vida, enganando a morte. Meu pai não era muito de festa. Não dessas tradicionais. A festa era ele mesmo. Onde chegava era um acontecimento. Não nasceu mesmo pra ser plateia. Não que isso fosse sempre um conforto, mas era ele. Meu pai. Com todos os bônus e ônus. Herói possível. Que errava muito, mas acertava também. Dotado de um grau de humanidade que anda nos faltando hoje nesse mundo cada vez mais hostil. Meu Dom Quixot