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Mostrando postagens de julho, 2019

Iceberg

 Não é o momento. Muito se tem negado. Não vivido. Não questionado. Amordaçado. Amar. Dura. Me sinto fria, centrada em algo que ainda não sei bem o nome. Não dá tempo. O tempo me consome. Some. Entre brios. Estribilhos de uma música ruim que insiste. O silêncio sobe um tom. O acorde é diferente. Morto. Não reflexivo. Evasivo. Há nuvens num céu de brigadeiros, majores, coronéis,  homens infiéis. Vão-se os dedos, os anéis,  e eu fico  cá, sozinha, entre devaneios escorrendo pelo peito nu. Gelado é o lado de dentro pela indiferença de um amor que demora a queimar. Às vezes eu adjetivo demais porque é de menos a ação. Não era pra ser assim, mas é. O fim.

Mas era.

Que a gente comece a acreditar que depressão é uma doença. Séria. Que não é só uma preguicinha de viver, que não é só "levantar a cabeça e ir à luta", que não é corpo mole, que não é uma gripe. Que não é falta de fé ou de religião alguma. Que não é nenhuma possessão, quebranto, ou seja lá o que você acredita. Porque não é sobre você. É sobre o outro. É entender que estar doente não é escolha do outro. Que, inclusive, devido a doença, o outro está impossibilitado de fazer escolhas. E sofre. Mesmo se um dia resolver sair. Mesmo se der uma gargalhada. Mesmo se parecer bem. Porque depressão não é sobre parecer, não é estigma, não é achismo. Depressão é doença. Precisa ser diagnosticada, tratada, entendida. E pode durar anos, a vida toda, quem sabe, sob controle, mas sempre à espreita. Ainda que não na cara, pra que a gente acredite, seja complacente e aja mais antes de se chocar quando vir pessoas atirando na própria cabeça ou se jogando do nono andar. Porque nem parecia. Mas e

Morrer de Véspera.

      O novo chega cada vez mais depressa. Gatuno, na era pós, quer nos impor sistematicamente a juventude eterna.  Ainda que velho, não pode ser velho, tem que não parecer velho. A longevidade aumentou e a toda hora  velhinhos saltitantes, serelepes, sarados, de bem com a vida, pululam nas telas, nos imaginários. Não se tolera mais a artrite, a enxaqueca, a rabugice e o bolo de fubá. Vivacidade é a palavra do dia, ainda que a lucidez ande com a visão torta. Acompanhada do velho Buk e toda sua preguiça com a humanidade, levanto um brinde aos que seguram esse tranco e não sucumbem à liquidez. Me deixem viver a era onde serei rainha mor do meu não sou obrigada a nada. Onde nenhuma amarra a mais, além das minhas limitações físicas, me prenderá. Quero continuar me enveredando pelos poetas malditos, garimpando Ninas Simone por aí, curtindo fotos com ângulos sensíveis, admirando belezas pintadas há séculos, ou por algum atual desconhecido insistente. Quero continuar falando coisas sem sen