O novo chega cada vez mais depressa. Gatuno, na era pós, quer nos impor sistematicamente a juventude eterna. Ainda que velho, não pode ser velho, tem que não parecer velho. A longevidade aumentou e a toda hora velhinhos saltitantes, serelepes, sarados, de bem com a vida, pululam nas telas, nos imaginários. Não se tolera mais a artrite, a enxaqueca, a rabugice e o bolo de fubá. Vivacidade é a palavra do dia, ainda que a lucidez ande com a visão torta. Acompanhada do velho Buk e toda sua preguiça com a humanidade, levanto um brinde aos que seguram esse tranco e não sucumbem à liquidez. Me deixem viver a era onde serei rainha mor do meu não sou obrigada a nada. Onde nenhuma amarra a mais, além das minhas limitações físicas, me prenderá. Quero continuar me enveredando pelos poetas malditos, garimpando Ninas Simone por aí, curtindo fotos com ângulos sensíveis, admirando belezas pintadas há séculos, ou por algum atual desconhecido insistente. Quero continuar falando coisas sem sentido ao mesmo tempo que ainda pensarei ser possível mudar o mundo, ainda que ele já tenha mudado. Pra pior. Quero fazer exercícios sim, talvez um único dia, pra depois não mais. Ah, quero fazer poesia. Muita poesia. Isso pretendo preservar, anotando todos os dias os nomes daqueles que me tiram essa vontade agora. Quero ter memórias e falar sobre elas. Quero dizer que houve um tempo, contar causos, catalogar a vida. Quero ser racional, mas também trazer a dúvida, ponto fora da curva. Quero chuva pra poder chorar, dar piti, falar palavrão, continuar me indignando contra a opressão. Ver o velho, sem Estado, sem tempo pra qualquer reflexão, rir com a boca banguela, e rir de nós mesmos, da nossa divina tragédia humana. Quero seguir sendo. Para não morrer de véspera.
O novo chega cada vez mais depressa. Gatuno, na era pós, quer nos impor sistematicamente a juventude eterna. Ainda que velho, não pode ser velho, tem que não parecer velho. A longevidade aumentou e a toda hora velhinhos saltitantes, serelepes, sarados, de bem com a vida, pululam nas telas, nos imaginários. Não se tolera mais a artrite, a enxaqueca, a rabugice e o bolo de fubá. Vivacidade é a palavra do dia, ainda que a lucidez ande com a visão torta. Acompanhada do velho Buk e toda sua preguiça com a humanidade, levanto um brinde aos que seguram esse tranco e não sucumbem à liquidez. Me deixem viver a era onde serei rainha mor do meu não sou obrigada a nada. Onde nenhuma amarra a mais, além das minhas limitações físicas, me prenderá. Quero continuar me enveredando pelos poetas malditos, garimpando Ninas Simone por aí, curtindo fotos com ângulos sensíveis, admirando belezas pintadas há séculos, ou por algum atual desconhecido insistente. Quero continuar falando coisas sem sentido ao mesmo tempo que ainda pensarei ser possível mudar o mundo, ainda que ele já tenha mudado. Pra pior. Quero fazer exercícios sim, talvez um único dia, pra depois não mais. Ah, quero fazer poesia. Muita poesia. Isso pretendo preservar, anotando todos os dias os nomes daqueles que me tiram essa vontade agora. Quero ter memórias e falar sobre elas. Quero dizer que houve um tempo, contar causos, catalogar a vida. Quero ser racional, mas também trazer a dúvida, ponto fora da curva. Quero chuva pra poder chorar, dar piti, falar palavrão, continuar me indignando contra a opressão. Ver o velho, sem Estado, sem tempo pra qualquer reflexão, rir com a boca banguela, e rir de nós mesmos, da nossa divina tragédia humana. Quero seguir sendo. Para não morrer de véspera.
E eu queria que você escrevesse mais crônicas assim.
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