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"SEU JORGE ESTÁ DORMINDO NA MINHA PORTA!"

"Tem o Brasil que é lindo outro que fede o Brasil que dá é igualzinho ao que pede" Seu Jorge chega só para dormir. Pelo menos tenta.Nunca pede nada. Se ajeita no papelão e nos poucos trapos sujos que carrega consigo. Sim, há um mendigo dormindo na minha porta, sob meus olhos. Converso com ele. Pergunto porque não procura o abrigo da prefeitura. Ele me diz que já esteve por lá mas não gostou, que se vira melhor na rua. Diz também que "era bem de vida". Que perdeu tudo quando colocaram fogo no seu barraco. Começa a chover. Chuva forte que incomoda. Não menos que saber que Seu Jorge está lá fora encharcado. Abro o armário e pego uma dessas capas de chuva, compradas para dias de jogo em estádios de futebol. Será que Seu Jorge já foi a algum jogo? Penso abobalhadamente, enquanto digo para o homem ali deitado: "Seu Jorge, levante os braços. Isso! Agora a bunda, Seu Jorge..." (a boca banguela se escangalha de rir). Os meninos passam por ele e o cumprimenta...

"AS ROSAS ACEITEM..."

Hoje, nós mulheres, receberemos rosas. Aceitem. As rosas aceitem. Mas não aceitem a invisibilidade, a anulação, a violência física e psicológica, a submissão. Não aceitem o machismo, a misoginia, a ditadura da moda, do corpo perfeito, o padrão. Não aceitem menores salários, piores cargos, assédio sexual e moral, a desvalorização. As rosas aceitem. Mas não aceitem a falta de assistência social, de políticas públicas, a negligência, a omissão. Não aceitem a piada da “loira burra”, da “vaca que dá bom dia”, da amiga traiçoeira e invejosa,  a humilhação. Não aceitem a "rainha do lar", pais ausentes, faxina, louça, fogão, a falta de colaboração. As rosas aceitem. Mas não aceitem quem não respeita individualidade, autonomia, espaço, vontade, desejo. Não aceitem quem nos quer metade, laranjas, castradas, caladas, menores, feridas, MORTAS.  Mas as rosas aceitem... ou NÃO!

FAMOSOS PORQUE IMPORTANTES, OU IMPORTANTES PORQUE FAMOSOS?

“No futuro todos terão seus quinze minutos de fama”. A frase “profetizada” pelo artista plástico americano, Andy Warhol, nunca foi tão precisa. Na era da superexposição, celebridades instantâneas se proliferam como bolhas de sabão e estamos cada vez mais exibidos.  Conectados. Plugados. Com a vida por um fio (ou não, nos casos de conexão WI-FI), queremos ver e, principalmente, ser vistos, o que na maioria das vezes, relega a segundo plano a preocupação com a qualidade do que será oferecido à apreciação pública (ok, a triagem fica por nossa conta)  Nas redes sociais temos seguidores que vigiam ações alheias pontualmente com uma curiosidade voraz, saciando a vaidade de quem produz conteúdos específicos para atender a um público exigente em relação às novidades, sejam elas quais forem (fato que, sinceramente, me causa estranheza. Conheço histórias escabrosas de um passado recente, onde, ser seguido e vigiado o tempo todo era o que as pessoas menos queriam). A verdade é que ...

"A MÃE DA REVOLUÇÃO"

     Apesar de ter nascido sob um regime ditatorial, ela não se intimidou.  A  omissão seria a opção mais provável para quem vivia numa situação privilegiada em relação à maioria da população, mas ela fez uma escolha diferente. Foi à faculdade, tornou-se mulher, esposa, mãe e, ainda assim, nada disso calou a inquietação que sentia. Queria mais, queria a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa, queria o módico direito de “usar um celular” e a utopia de derrubar um governo que há mais de 30 anos estava no poder.      Mesmo que houvesse convicção, sabia que o caminho escolhido não seria o mais fácil. Com a família ameaçada,  tentativas de submissão e até mesmo de assassinato, contrariou as expectativas e fez da repressão  o combustível primordial para  o aumento do seu engajamento político.  Foi às ruas, participou e organizou protestos, foi presa por diversas vezes, e tornou-se um dos maiores ícones na luta contra um ...

"O PAPA NUNCA FOI POP!"

E eis que, em plena segundona de carnaval, momento sagrado para muitos de nós brasileiros (desculpem a heresia), o Papa Bento  XVI anuncia que vai renunciar ao seu papado, alegando razões de saúde, ou melhor, falta dela.  Mas ao que tudo indica e corre a boca grande nos corredores do Vaticano, o motivo real de sua saída seria o xeque mate que o pobre Pontífice levou antes mesmo de entregar a Tiara Papal quando partisse para a Glória (Glória? Vai saber...).   Se de um lado, o PAPA se viu encurralado por várias denúncias de corrupção, leniência com os casos de padres pedófilos, e o aumento significativo de vários grupos pedindo a modernização da Igreja Católica , como por exemplo, o movimento   Pfarrer-Initiative (Iniciativa dos Párocos) na Áustria, onde, centenas de padres assinaram um manifesto requerendo, entre outras coisas, a  comunhão para os divorciados e a ordenação de mulheres, por outro lado, aquele lado que deveria lhe dar apoio, a ala (não a...

Pérola do Atlântico aos Porcos?!

Ainda que eu me esforce, continuo achando, no mínimo, "pitoresco" o ouriçamento dos "cidadãos de bem, honestos, pagadores de impostos, que chegaram até onde chegaram através de muito trabalho e mérito" no que se refere a recente onda de "invasão" de moradores de rua, drogaditos e afins, aos locais (ditos) nobres da cidade do Guarujá. E agora? A tão sonhada PAZ que compraram a peso de ouro (exposto nos carnês do IPTU) está ameaçada!! Segundo dados da FGV (Fundação Getúlio Vargas), Guarujá vem numa curva descendente de desenvolvimento social há, pelo menos, uma década. São mais de cem favelas, terrenos invadidos, comunidades carentes de aterramento sanitário, água e luz, tráfico dominando favelas e banalizando a morte. Isso sem contar os péssimos índices no Ideb, na área de educação, a carência no atendimento público de saúde, o número elevado de mortalidade infantil (um dos maiores do estado), o desemprego entre os jovens chegando aos 42% e, estatísticas so...

"DEIXEM ELA MORRER EM PAZ!"

Quando entro na enfermaria, vejo que a pessoa a quem fui visitar está bem. Ao lado dela, outra mulher. Parece grávida. Pergunto o que há e recebo a resposta de que não é “problema com a gravidez”. Ela tem um tumor, ela tem metástase e ela não tem mais vida. É uma paciente classificada como terminal. Vomita sem parar. Quase desfalecida, agoniza ao lado de um marido apático. Impotente diante da morte? Conformado? A cena incomoda. Me incomoda. Muito. Não pela doença, não que seu martírio me ofenda. É a impotência que me corrói. O sofrimento dela me corrói. A dor dela me dói...  Na sala de enfermagem pergunto se alguém pode fazer algo por aquela mulher e uma das primeiras perguntas que me fazem é se “sou sua acompanhante”. Por quê? A resposta seria diferente? Num tom burocrático, a enfermeira me explica que o caso dela é terminal, que já comunicou a família, que o médico já medicou e disse que “a deixassem morrer em paz!” Insisto. Não seria o caso de uma UTI? “Filha, não podemos fazer ...