Pular para o conteúdo principal

Um tangaço para o meu pai!

Quando eu era menor, pequena nunca fui, lembro do meu pai debruçado na vitrola ouvindo ópera, quando não, tango. Mas não era só ouvindo. Ele vivia todas aquelas árias. Uma sofrência só. Isso quando não batucava saleroso os refroes dos tangaços preferidos. Às vezes pegava o violão e me chamava pra ouvir " qué bonitos ojos tienes
debajo de esas dos cejas" e que eu entendia "debajo de sete quedas" e não via sentido algum. Cachoeira? Catataratas?
Lembro também da gente discutindo os editais do Jornal do Brasil madrugada adentro, filosofando sobre a vida, enganando a morte.
Meu pai não era muito de festa. Não dessas tradicionais. A festa era ele mesmo. Onde chegava era um acontecimento. Não nasceu mesmo pra ser plateia. Não que isso fosse sempre um conforto, mas era ele. Meu pai. Com todos os bônus e ônus. Herói possível. Que errava muito, mas acertava também. Dotado de um grau de humanidade que anda nos faltando hoje nesse mundo cada vez mais hostil. Meu Dom Quixote e seus moinhos de vento. Minha Caixa de Pandora, meu enigma da pirâmide. Meu pai que anda comigo na minha boca, nariz, sentimentos e alguma pirraça. Obrigada, pai. Eu sou porque você foi. E é.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

"AOS 21, ERA MUITO MAIS FEMINISTA DO QUE SONHAVA A MINHA VÃ FILOSOFIA!"

Quando li a notícia no blog da Lola ( http://escrevalolaescreva.blogspot.com/2010/08/concurso-de-blogueiras-no-ar.html ) de que haveria um concurso para blogueiras com o tema, "A origem do meu feminismo", comecei a refletir até que ponto eu sou feminista, se é que sou. Apesar de ter minhas opiniões e convicções, não gosto muito de "rótulos". Prefiro ter a liberdade de ser "essa metamorfose ambulante". Mas, acontece que, numa breve análise da minha vida, acabei me dando conta de que a época em que "fui" mais feminista até agora, foi aos 21 anos. Época em que, talvez, eu nem tivesse a consciência de que tudo que estava vivendo, estaria colocando à prova, todos os meus mais camuflados e desconhecidos "instintos feministas". O curioso é que só agora, consigo enxergar por esse ângulo. Bom, antes tarde do que nunca! Na ocasião, meu pai, que era um pequeno comerciante e chegou a ter cinco lojas espalhadas por diversas cidadezinhas da região

KEILISTA KARAÍVA - "Garota Estileira"

Quando eu cheguei aqui no Guarujá a sua família foi uma das primeiras que conheci. Curiosamente, você foi sempre a que tive menos contato. Notícias suas só tinha assim, an passant. Sempre voando. Uma hora no Sul, outra em Sampa, outra em Trancoso. Mas em janeiro, quando te levei algumas vezes para a radioterapia em Santos, nos aproximamos. Mesmo com a morte vigiando da esquina, falávamos de vida. Das nossas vidas. Amores, dissabores e planos (e você tinha tantos!): o restaurante, sua filha, um novo amor, talvez voltar a Trancoso, quem sabe? Quem saberia, pelo menos quem ousaria,  naquele momento, pensar na estupidez da inexorabilidade da morte, esse hiato sem fim, desmantelando todos esses planos? Não sei se atropelo o sujeito ali dizendo que “quem tem planos não morre” ou, sei lá, acredito que seja melhor pensar assim que, de fato, você não tenha morrido, mas se libertado daquele corpo doente que não combinava em nada, nada, contigo.  Uma mulher inquieta, ativa, irreverente,

"RAPIDINHAS DO PEDRINHO"

"NO STRESS!" Davi, o irmão caçula do Pedro, tinha acabado de fazer xixi e estava pelado.  -Davi! Vai ficar pelado aí? Perguntei para ele. E o Pedro me respondeu: "DEIXA ELE MÃE ! ELE ESTÁ CURTINDO A VIDA!" ESPECIALMENTE PARA O MEU AMIGO MAIS FRESCO (AMIGO MAIS RECENTE) ZATÔNIO