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ILHA

"Não me encha de flores de filhos nem de fados
Não me ofereça prendas nem bodas
E não me envolva com esses mil abraços de me impor limites
Eu não sou seu continente
E não me venha com esses aviões em esquadra sobrevoar meu território
Não despeje suas bombas sobre minhas vilas e
Nem tente invadir minhas normandias
Eu não sou seu continente
Não invente capitanias e não desenhe mapas com esse vinco no lençol de
linho pra demarcar minhas superfícies
Não proponha tratados com letras do tamanho de formigas nem pactos
nem acordo de paz nenhuma
Eu não sou seu continente
Não ultrapasse minhas fronteiras não exploda minhas pontes não tente
arapucas artefatos bélicos minas terrestres
Não subestime minhas trincheiras
Eu não sou seu continente
Não quero sua catequese nem sua crítica nem sua nota nem sua poda
Nem seu afago nem esse beijo de dizer amores que me deixa muda
Não planeje embargos nem emboscadas
Não queira ocupar meus peitos nem meus pátios
Eu não sou seu continente
Não venha não avance
Não queira que eu seja sua terra prometida
Eu não sou
Já disse: Não sou seu continente
Eu sou essa ilha pequena e vivo à mercê do mal tempo
Eu sou essa ilha que sabe onde ficam os limites
Eu sou essa ilha cercada de
tralhas por todos os lados
Eu sou essa ilha pequena onde não se chega a nado
Eu sou essa ilha pequena
E nenhum porto te ofereço
Eu sou essa ilha pequena
E é assim que eu permaneço"

(Ezter Liu, março/2019)



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