Pular para o conteúdo principal

Intervenção Cênica Projeto Guarujá En(Cena)

     Quando cheguei à Praça 14 Bis, com o Davi e a Antônia Flor (7 e 4 anos), a intervenção cênica do Projeto Guarujá En(Cena) já estava pra lá da metade. Nem por isso deixei de me encontrar em diversos momentos do que deu pra assistir. No meio do burburinho, logo de cara, nos deparamos com uma noiva vagando. O olhar perdido era bem diferente das capas efusivas da revista Noiva do mês de maio, mas, antes que eu concluísse qualquer raciocínio, passou uma mulher gritando e rasgando a plateia, uma pequena colcha formada pela aglomeração, que ria encabulada, cochichava e disfarçava o incômodo. “Por que essa moça estoura contra os postes os balões que traz amarrados ao corpo? Que sentido há nesse gesto tão insano?” Pois eu, depois de quase tropeçar na realidade de uma melancia destroçada no chão, guardei os meus balões imaginários tantas e tantas vezes estourados contra os postes, e viajei em outros balões que, libertos por tesouras providenciais, perderam-se entre as nuvens. 

 Davi e Antônia Flor mal respiravam. Intimidavam-se menos do que os adultos e deixavam fluir a curiosidade e a espontaneidade dos comentários. Os adultos resistiam. Acompanhavam com displicência esperando alguma identificação que não chegava.É sempre mais confortável rir da loucura quando não nos reconhecemos nela. Enfim, depois de um envolvente número de dança, a intervenção cênica acabou. O fluxo seguiu e a vida voltou ao normal. Pronto! Estávamos todos salvos. Pipoquinha para as crianças e perguntei o que acharam. Antônia disse com a sapiência de uma criança de quatro anos que “ADOROU” e emendou um “não entendi nada!”. Davi perguntou “se a mulher com as bolas amarradas ao corpo era louca e concluiu em seguida que ela era tipo um peixe, uma isca da peça, usada pra chamar a atenção das pessoas.

A tarde terminou deixando a satisfação de saber que no Guarujá existe um movimento teatral capaz de fazer essa mobilização. Para quem perdeu, no próximo final de semana (24/25) tem mais.Na Praça 14 Bis às 16 hs. Assista e tire suas próprias conclusões. Permita-se o incômodo. O que você não pode é ficar imune.   

  

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

"AOS 21, ERA MUITO MAIS FEMINISTA DO QUE SONHAVA A MINHA VÃ FILOSOFIA!"

Quando li a notícia no blog da Lola ( http://escrevalolaescreva.blogspot.com/2010/08/concurso-de-blogueiras-no-ar.html ) de que haveria um concurso para blogueiras com o tema, "A origem do meu feminismo", comecei a refletir até que ponto eu sou feminista, se é que sou. Apesar de ter minhas opiniões e convicções, não gosto muito de "rótulos". Prefiro ter a liberdade de ser "essa metamorfose ambulante". Mas, acontece que, numa breve análise da minha vida, acabei me dando conta de que a época em que "fui" mais feminista até agora, foi aos 21 anos. Época em que, talvez, eu nem tivesse a consciência de que tudo que estava vivendo, estaria colocando à prova, todos os meus mais camuflados e desconhecidos "instintos feministas". O curioso é que só agora, consigo enxergar por esse ângulo. Bom, antes tarde do que nunca! Na ocasião, meu pai, que era um pequeno comerciante e chegou a ter cinco lojas espalhadas por diversas cidadezinhas da região

KEILISTA KARAÍVA - "Garota Estileira"

Quando eu cheguei aqui no Guarujá a sua família foi uma das primeiras que conheci. Curiosamente, você foi sempre a que tive menos contato. Notícias suas só tinha assim, an passant. Sempre voando. Uma hora no Sul, outra em Sampa, outra em Trancoso. Mas em janeiro, quando te levei algumas vezes para a radioterapia em Santos, nos aproximamos. Mesmo com a morte vigiando da esquina, falávamos de vida. Das nossas vidas. Amores, dissabores e planos (e você tinha tantos!): o restaurante, sua filha, um novo amor, talvez voltar a Trancoso, quem sabe? Quem saberia, pelo menos quem ousaria,  naquele momento, pensar na estupidez da inexorabilidade da morte, esse hiato sem fim, desmantelando todos esses planos? Não sei se atropelo o sujeito ali dizendo que “quem tem planos não morre” ou, sei lá, acredito que seja melhor pensar assim que, de fato, você não tenha morrido, mas se libertado daquele corpo doente que não combinava em nada, nada, contigo.  Uma mulher inquieta, ativa, irreverente,

RESILIÊNCIA

A palavra não vem. Ela busca, rebusca, mas não vem... Talvez porque o momento peça silêncio, encapsulamento, digestão. Cansou de ser o São Jorge, pirou e comeu o dragão, mas não consegue soltar o fogo pelo nariz... Está revirando as tripas, os poros, o púbis... Frio que cala a fala em pleno sol de verão. Joga a garrafa ao mar. O socorro já chega  enfiando a mão na garganta.  Ela vomita e respira aliviada. Agora ela já pode falar. Entendeu que, mais do que comer o dragão,   precisa é aprender a comer um dia de cada vez...