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"AOS 21, ERA MUITO MAIS FEMINISTA DO QUE SONHAVA A MINHA VÃ FILOSOFIA!"



Quando li a notícia no blog da Lola (http://escrevalolaescreva.blogspot.com/2010/08/concurso-de-blogueiras-no-ar.html ) de que haveria um concurso para blogueiras com o tema, "A origem do meu feminismo", comecei a refletir até que ponto eu sou feminista, se é que sou. Apesar de ter minhas opiniões e convicções, não gosto muito de "rótulos". Prefiro ter a liberdade de ser "essa metamorfose ambulante". Mas, acontece que, numa breve análise da minha vida, acabei me dando conta de que a época em que "fui" mais feminista até agora, foi aos 21 anos. Época em que, talvez, eu nem tivesse a consciência de que tudo que estava vivendo, estaria colocando à prova, todos os meus mais camuflados e desconhecidos "instintos feministas". O curioso é que só agora, consigo enxergar por esse ângulo. Bom, antes tarde do que nunca!
Na ocasião, meu pai, que era um pequeno comerciante e chegou a ter cinco lojas espalhadas por diversas cidadezinhas da região serrana no interior do estado do Rio, precisava de alguém que o ajudasse e, lá fui eu, com 21 anos de "mala e cuia", para uma dessas cidades, (que tinha 16.000 habitantes) tomar conta de uma das lojas.
No começo achei tudo meio estranho, mas depois pela própria natureza camaleônica que acredito que o ser humano tenha, acabei me adaptando. Morava sozinha, tinha meu carro (velho, mas tinha) e tomava conta da loja que tinha três funcionárias. Almoçava em um restaurante self-service, (ou na loja mesmo) e tinha uma diarista. Ou seja, não dependia de ninguém. Eu mesma tinha conseguido montar uma pequena estrutura para viver ali, naquele lugar. O que eu não imaginava é que isso despertaria a curiosidade de tantas pessoas. Instalou-se uma "COMISSÃO PERMANENTE E ESPECULATIVA DE INQUÉRITO" que tinha como OBJETIVO tentar descobrir "QUAL ERA O PECADO QUE EU PODERIA CARREGAR". Sim, porque "moça nova, solteira e morando sozinha...huuum, aí tem! Uma vez, quando minha mãe foi me visitar com minha sobrinha, cogitaram até a possibilidade da menina ser minha filha, e eu esconder "esse escândalo"! O negócio era descobrir o quê havia de errado comigo. A imaginação ia longe! E para ajudar a confundir ainda mais essas "mentes brilhantes", eu era totalmente desprovida de vaidade (hoje sou mais mocinha, tenho até orelha furada) não usava maquiagem, minhas roupas eram básicas,(muito jeans e camiseta) e achava que, com um metro e oitenta de altura e cabelão liso quase pela cintura, não precisava me "enfeitar" muito para aparecer. Aliás, nunca gostei mesmo de chamar a atenção. Fato era que, esse "meu jeito" causava estranheza para a "COMISSÃO". A coisa ainda piorou bastante quando chamei uma amiga minha (que mais parece a Penélope Charmosa, de tão vaidosa), para me ajudar na loja, já que ela estava desempregada. Pronto: "Olha lá, não falei? Não disse que ela era estraaanha?! É SAPATÃO..." E depois, quando a gente começou a namorar? É...eu namorava um rapaz e ela outro, é bom explicar, né? Aí, a "COMISSÃO" surtou de vez. Imagina as carinhas: "Esse mundo está mesmo perdido!"
Apesar de eu saber dos comentários, não me importava (sabia que eram apenas de algumas pessoas que "odiavam gatos"). Fiz ótimos amigos lá, com quem tenho contato até hoje e depois; nunca me intimidei e deixei de não ir a qualquer lugar que eu queria ir, nunca deixei de andar com quem eu queria andar e recebia na minha casa, aqueles que eu achava que deveria receber. E mais...nunca mudei meu modo de vestir, ou meu comportamento por qualquer tipo de pressão externa, nem quando cheguei a namorar rapazes de lá. Quando logo no começo, percebi que "pagaria" um preço por ser, primeiro de tudo, mulher,(acredito que se fosse um rapaz na minha situação, não haveria tanta especulação), solteira e morando sozinha numa cidade pequena e bastante provinciana, resolvi ser mais determinada e me impor. Nunca cedi um centímetro do que eu achava justo e certo "ser e fazer", em nome de ninguém e nem por nada que eu não acreditasse.
Talvez esse tenha sido efetivamente "o meu primeiro encontro com meu feminismo". Hoje, devo confessar que não tenho mais a impetuosidade daqueles tempos mas a essência, continua a mesma. Não consigo admitir nenhuma situação onde a mulher é julgada, condenada ou execrada, muito mais pelo fato de ser uma mulher, do que propriamente por alguma coisa que ela tenha dito ou feito. Se isso é ser feminista, então... "prazer em me conhecer!" Sou sim, FEMINISTA!

Comentários

  1. Oi, Clara!

    Gostei muito do seu post! É incrível mesmo como a especulação rola solta em cidades pequenas... E como a gente tem que aprender a se impor e a bancar as nossas escolhas que fogem ao senso-comum... Parabéns pelo texto e pela determinação!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Não é "mandar". Quem quer participar, deixa um link no blog da Lola, e as pessoas que quiserem ler, clicam aqui. O bom é que existe bastante interatividade e a gente fica conhecendo outras histórias e outros blogs bem bacanas. Não há prêmio e não importa muito quem vai ganhar, o objetivo maior é justamente essa troca que, ao meu ver é muito produtiva. No começo, fiquei meio assim de participar...vc sabe,né?!Mas depois pensei:"Por que não?" "VÃOBORAVÊQUALÉQUEÉ!"

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  4. Adorei o texto! Vi o link lá no blog da Lola junto com os outros!
    Muitas vezes acaba é sendo engraçado o modo como pessoas que tem um pensamento mais antigo, como de muitas de cidades muito pequenas ou muito afastadas, reagem diante de situações que pra quem não é machista é tão comum, uma mulher independente morando sozinha por exemplo, e pra eles é algo sempre misterioso, estranho, rs... Vai entender esses machistas. Pra mim, estranhos são eles...
    Bjus!!

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  5. Adorei o texto, em cidade pequena de gente de mente pequena, mulheres sozinhas e independentes rapidinho viram a bola da vez. Já passei muito por isso, sempre passo.
    Bom encontrar gente "feito eu".
    Beijos

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  6. ótimo texto. Apenas acrescentar aos comentários feitos que não precisa ser em cidade pequena. Eu passei por coisas muito parecidas morando sozinha aos vinte e poucos anos em um prédio em são paulo...é, a população da grande metropole também é machista

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  7. Adorei o seu texto, é um dos que mais gostei do concurso! Sem firulas, sem palavrinhas cults e difíceis, simples e direto, como o feminismo é.

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  8. Clarinha, você está com a "corda toda"!
    Parabéns, menina!
    Beijos

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  9. Ah, meu URSÃO!! Tá muito legal!Tô conhecendo(virtualmente)muita gente boa,com blogs muito bons...Enfim,tô adorando!! Bj!

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  10. acho engraçado essas coisas, mas nao me espantam mais (o que eh mais triste). as pessoas se acham no direito de darem conta da sua vida. sai de joao pessoa muito aliviada, porque com essa de blog, orkut, tt e etc, todo mundo sabe o que se passa na sua vida, ou pior, acha que sabe :)

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  11. oi, clara! vim retribuir a visita e ler seu post também! gostei muito de ambos!
    ;***

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  12. Cidade pequena tem esse mal, Clara! Nunca vi um povo pra se incomodar tanto com a vida dos outros. E se esse outro é uma mulher... Ai você já viu, né?! Lamentável!=S

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  13. Este comentário foi removido pelo autor.

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  14. Claraaaaaaaaaa! Que bacana sua visita ao meu blog. Olha... eu fiquei tão atarefada lendo os outros postes do concurso que acabei esquecendo de sair seguindo a mulherada. AUHSUHSUAHSUAHSU MAS esse problema eu já não possuo mais e tô começando a solucionar por você!;)
    Depois, com mais calma, volto aqui pra ler outros postes. Porque assim como você, eu voltarei sempre, viu?! Freguesia recíproca! o/

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  15. Oi, Clara, cheguei aqui pelo concurso da Lola.
    Legal tua história. Inacreditável que as pessoas se preocupem tanto assim com a vida de alguém só porque não atendeu alguns padrões de gênero.

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  16. Depois do texto machista de Luiz Felipe Pondé (Folha, 13/09, "Restos à Janela") em que ele reclama das neopeludas, Pondé ganhou as neopelucias.

    Ajude a divulgar.
    Participe você também enviando a sua cartinha.

    Pentelhando Luiz Felipe Pondé em quatro passos:

    http://neopelucias.wordpress.com/

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