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Cê nao guenta, moça!



Muita lacração e pouca abertura. A vida é ali na esquina, moça. Na quebrada. Cê não guenta, moça. Ali quem lacra é o marginal e o pastor neopentecostal. A palavra que chega é a da Bíblia, e a segurança quem dá é o Irmão. Vai, lá, moça, vai lá empoderar ela. Leva seu doutorado, seu feminismo perfumado, seu discurso pink deturpado. Vai, vai de batom vermelho nessa tua cara branca pra mostrar que não tem medo de ser chamada de puta. Puta? Cê não guenta, moça. Cê não guenta meia hora de esquina. A navalha é na carne. O tiro vem do Estado, da sociedade, da vida. Tolida, fodida. Lacra, moça, fala bonito e não representa aquela que sempre se ausenta. Fala pras iguais, conforta as que têm conforto, ameniza a culpa de quem escolhe a mão que não vai soltar. Lacra linda na selfie,  no universo feminino. Faz o jogo da bolha, do sistema, do patriarcado. Lacra de rosa e esquece o vermelho sangue das mulheres invisibilizadas. Lacra absoluta onde mal nenhum te alcance. Lacra. Não abre. Porque aqui fora cê não guenta, moça. Cê não guenta, não!

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