Quando entro na enfermaria, vejo que a pessoa a quem fui visitar está bem. Ao lado dela, outra mulher. Parece grávida. Pergunto o que há e recebo a resposta de que não é “problema com a gravidez”. Ela tem um tumor, ela tem metástase e ela não tem mais vida. É uma paciente classificada como terminal. Vomita sem parar. Quase desfalecida, agoniza ao lado de um marido apático. Impotente diante da morte? Conformado?
A cena incomoda. Me incomoda. Muito. Não pela doença, não que seu martírio me ofenda. É a impotência que me corrói. O sofrimento dela me corrói. A dor dela me dói...
Na sala de enfermagem pergunto se alguém pode fazer algo por aquela mulher e uma das primeiras perguntas que me fazem é se “sou sua acompanhante”. Por quê? A resposta seria diferente? Num tom burocrático, a enfermeira me explica que o caso dela é terminal, que já comunicou a família, que o médico já medicou e disse que “a deixassem morrer em paz!”
Insisto. Não seria o caso de uma UTI? “Filha, não podemos fazer mais nada. Para mandá-la para casa, é melhor que fique aqui com um ‘certo conforto’”.
As palavras dançam na minha cabeça junto com os gritos da mulher. CONFORTO,PAZ... Não vejo nada disso!! Só vejo uma mulher agonizando, desesperada, esperando que alguém possa fazer algo por ela. Onde foi que se enfiou a bosta da sensibilidade dessa gente? Sim, ela está morrendo como todos nós. A diferença é que nesse momento ela está com dor, sofrendo... Onde está a medicina moderna, aquela que vemos nas reportagens de TV, capaz de amenizar esse final tão trágico? A quem cabe usufruir? A quem cabe o direito de decidir quem deve usufruir de um mínimo de respeito numa hora dessas?
Voltei para casa levando aquela mulher comigo. Estava pesada. Muito pesada...
Hoje, soube que morreu ontem pela manhã. Morreu. No mesmo lugar, com a mesma desatenção, com as mesmas pessoas ao redor, vacinadas pela apatia, assistindo a sua “pequena tragédia”. Morreu. Mas sem conforto e sem paz. Disso, e nesse momento só disso, eu tenho certeza!
A cena incomoda. Me incomoda. Muito. Não pela doença, não que seu martírio me ofenda. É a impotência que me corrói. O sofrimento dela me corrói. A dor dela me dói...
Na sala de enfermagem pergunto se alguém pode fazer algo por aquela mulher e uma das primeiras perguntas que me fazem é se “sou sua acompanhante”. Por quê? A resposta seria diferente? Num tom burocrático, a enfermeira me explica que o caso dela é terminal, que já comunicou a família, que o médico já medicou e disse que “a deixassem morrer em paz!”
Insisto. Não seria o caso de uma UTI? “Filha, não podemos fazer mais nada. Para mandá-la para casa, é melhor que fique aqui com um ‘certo conforto’”.
As palavras dançam na minha cabeça junto com os gritos da mulher. CONFORTO,PAZ... Não vejo nada disso!! Só vejo uma mulher agonizando, desesperada, esperando que alguém possa fazer algo por ela. Onde foi que se enfiou a bosta da sensibilidade dessa gente? Sim, ela está morrendo como todos nós. A diferença é que nesse momento ela está com dor, sofrendo... Onde está a medicina moderna, aquela que vemos nas reportagens de TV, capaz de amenizar esse final tão trágico? A quem cabe usufruir? A quem cabe o direito de decidir quem deve usufruir de um mínimo de respeito numa hora dessas?
Voltei para casa levando aquela mulher comigo. Estava pesada. Muito pesada...
Hoje, soube que morreu ontem pela manhã. Morreu. No mesmo lugar, com a mesma desatenção, com as mesmas pessoas ao redor, vacinadas pela apatia, assistindo a sua “pequena tragédia”. Morreu. Mas sem conforto e sem paz. Disso, e nesse momento só disso, eu tenho certeza!
Nossa, Clarinha... Não sei nem o que dizer diante de um relato sensível e forte como esse.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirConfesso que fiquei meio "catatônica" tb, Glorinha. Triste, muito triste...
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