Hoje vi o olhar do meu pai num determinado momento do dia. Ele estava internado e tinha recebido uma de suas inúmeras altas durante aquele ano. Apesar do corpo já bastante debilitado devido a doença, nunca me esqueço da altivez daqueles olhos galegos quando me viram. Acredito eu que no meio de tantas internações, ele não tinha se dado conta que já era antevéspera de Natal e que, sem sabermos, eu estava ali para aquele que seria o último Natal que passaríamos juntos. Em "La Noche Buena", depois da ceia como de costume, ele assistia a Missa do Galo destrinchando todas as agruras que havia passado na época do seminário, na Espanha, e de final, acompanhava as partes cantadas da missa junto com o Papa João Paulo II, justificando seus altos conceitos em latim. O curioso é que esse "ritual" não nos aborrecia e até esperávamos por ele. Já estávamos acostumados. Seis meses depoio ele faleceu e ficaram as lembranças e esses flashes que me acompanham até hoje, dez anos depois que ele se foi . São segundos que me vêm assim, a qualquer hora, em qualquer lugar, onde vejo seus olhos, principalmente. Aliás, olhos foi o que ele me deixou de herança e meus olhos é o que ele enaltecia quando, com seu violão na mão, me chamava e cantava: "que bonitos ojos tienes..." Saudade, meu velho. Saudade...
Quando li a notícia no blog da Lola ( http://escrevalolaescreva.blogspot.com/2010/08/concurso-de-blogueiras-no-ar.html ) de que haveria um concurso para blogueiras com o tema, "A origem do meu feminismo", comecei a refletir até que ponto eu sou feminista, se é que sou. Apesar de ter minhas opiniões e convicções, não gosto muito de "rótulos". Prefiro ter a liberdade de ser "essa metamorfose ambulante". Mas, acontece que, numa breve análise da minha vida, acabei me dando conta de que a época em que "fui" mais feminista até agora, foi aos 21 anos. Época em que, talvez, eu nem tivesse a consciência de que tudo que estava vivendo, estaria colocando à prova, todos os meus mais camuflados e desconhecidos "instintos feministas". O curioso é que só agora, consigo enxergar por esse ângulo. Bom, antes tarde do que nunca! Na ocasião, meu pai, que era um pequeno comerciante e chegou a ter cinco lojas espalhadas por diversas cidadezinhas da região...
Você é de uma sensibilidade incrível, Clarinha. Que olhar bonito tem você, ou seja, que também tinha seu pai...
ResponderExcluirO olhar é fascinante. Sou apaixonada por e fiquei me perguntando a fascinação de um último... Que arrepio!
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