A receita era antiga. Tinha tirado de um jornal e já fazia um bom tempo que o recorte amarelado andava perdido em alguma gaveta não tanto remexida. Mas ela não precisava de receita, tinha tudo guardado na cabeça. Até porque, o tudo era quase nada. Foi então para a cozinha, fazer o único doce que a sua má vontade lhe permitia fazer.
Para o creme, duas latas de leite condensado e a mesma medida de leite. Três gemas de ovos que, quase por um acaso, aprendera com uma doceira a retirar aquela fina película transparente que envolve a gema e que dá o tão característico, e por vezes desagradável, cheiro de ovo aos doces (pelo menos, assim tinha lhe dito a tal doceira).
Biscoitos? Escolhia os de maisena mesmo, já que os tradicionalmente usados, os biscoitos champanhe, deixavam o doce, doce por demais. Essa doçura toda, definitivamente não lhe agradava.
Frutas? Poderia ser qualquer uma. Morango, abacaxi, pêssego...na verdade, pensando nos filhos, optou pelo pêssego ao invés da acidez do abacaxi, ainda que eles nunca comessem o único doce feito pela mãe. E por que não morango? Porque ela nunca gostou de morango, nem de nada que fosse feito com morango. À boneca talvez, tenha aberto uma exceção...
Para a cobertura, três claras, três colheres de açúcar, até alcançar o lúdico ponto de suspiro. Essa era a parte da receita que ela achava mais bonita. Um tanto quanto nostálgica também. Sentia falta do suspiro perdido quando, aos poucos, ia acrescentando porções generosas de creme de leite e a cobertura ia se engrossando. Enfim, aceitava resignada...
Começava a montagem do doce espalhando uma camada espessa do creme no fundo do pirex, o que sempre a obrigava a esticar ao máximo com a colher a última camada antes da cobertura. Era incrível como sempre, pelos seus cálculos, o "creme daria certinho para todas as camadas" e não dava...
Os biscoitos poderiam ser banhados no leite, no refrigerante ou no resto de vinho que ela achou jogado na geladeira. Dessa vez, não se lembrou dos filhos. Por quê? Eles não comeriam mesmo!
Os pêssegos foram picados em forma de lua. Não dormiria se não fossem picados em forma de lua. E, camada após camada, lá estava ele, finalmente pronto: o "PAVÊ DA PREGUIÇOSA!"
De noite, foi para a mesa e brilhou sozinho como sobremesa. Outros doces mais metidos e prometidos acabaram por não vir. Ela não pôde deixar de sentir uma pontinha de orgulho. Logo o seu pavê, tantas vezes alvo do deboche alheio, agora, ali, com cara de "doce de verdade" fazendo "as honras da casa".
Por fim, sentada no braço do sofá, se deliciou com um pedaço bem farto daquela iguaria feita pelas suas próprias mãos. Um avanço! Segunda-feira, se não tivesse preguiça, pensaria em gastar todas aquelas calorias adquiridas. Por ora, estava apenas feliz. Sem precisar de receita!
Para o creme, duas latas de leite condensado e a mesma medida de leite. Três gemas de ovos que, quase por um acaso, aprendera com uma doceira a retirar aquela fina película transparente que envolve a gema e que dá o tão característico, e por vezes desagradável, cheiro de ovo aos doces (pelo menos, assim tinha lhe dito a tal doceira).
Biscoitos? Escolhia os de maisena mesmo, já que os tradicionalmente usados, os biscoitos champanhe, deixavam o doce, doce por demais. Essa doçura toda, definitivamente não lhe agradava.
Frutas? Poderia ser qualquer uma. Morango, abacaxi, pêssego...na verdade, pensando nos filhos, optou pelo pêssego ao invés da acidez do abacaxi, ainda que eles nunca comessem o único doce feito pela mãe. E por que não morango? Porque ela nunca gostou de morango, nem de nada que fosse feito com morango. À boneca talvez, tenha aberto uma exceção...
Para a cobertura, três claras, três colheres de açúcar, até alcançar o lúdico ponto de suspiro. Essa era a parte da receita que ela achava mais bonita. Um tanto quanto nostálgica também. Sentia falta do suspiro perdido quando, aos poucos, ia acrescentando porções generosas de creme de leite e a cobertura ia se engrossando. Enfim, aceitava resignada...
Começava a montagem do doce espalhando uma camada espessa do creme no fundo do pirex, o que sempre a obrigava a esticar ao máximo com a colher a última camada antes da cobertura. Era incrível como sempre, pelos seus cálculos, o "creme daria certinho para todas as camadas" e não dava...
Os biscoitos poderiam ser banhados no leite, no refrigerante ou no resto de vinho que ela achou jogado na geladeira. Dessa vez, não se lembrou dos filhos. Por quê? Eles não comeriam mesmo!
Os pêssegos foram picados em forma de lua. Não dormiria se não fossem picados em forma de lua. E, camada após camada, lá estava ele, finalmente pronto: o "PAVÊ DA PREGUIÇOSA!"
De noite, foi para a mesa e brilhou sozinho como sobremesa. Outros doces mais metidos e prometidos acabaram por não vir. Ela não pôde deixar de sentir uma pontinha de orgulho. Logo o seu pavê, tantas vezes alvo do deboche alheio, agora, ali, com cara de "doce de verdade" fazendo "as honras da casa".
Que talento pra cronicar, né Clarinha?!
ResponderExcluir(Penso eu que seja crônica. É?!)
Fiquei com água na boca. Quero minha porção desse pavê, viu?!
Ah,sei lá se é, Glorinha!KKKK
ResponderExcluirVc, como sempre, uma fôfa!! O pavê, vou ficar devendo. Foi tudim, tudim...rsrs Beijo!!! Clara
da serie "posts que servem pra deixar luci com agua na boca". chuif.
ResponderExcluirModéstia à parte, ficou diliça! Comeram tudo! Até porque, não tinha outro...hihihi...beijo Luciana! Clara
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