A minha infância foi muito rica. De criatividade, de produtividade. Eu e meu irmão, que é um pouco mais velho do que eu, brincávamos sempre juntos. Aliás, fazíamos tudo juntos: passeios, viagens, colégio, amigos em comum e, quando a "jiripoca piava", piava para os dois com a mesma intensidade. Nunca houve qualquer distinção no modo como fomos criados. Nunca fui "proibida" de fazer qualquer coisa pelo fato de ser uma menina. Nunca fui "forçada" a ter uma "postura condizente com a minha condição de ser do sexo feminino".
Minha mãe não era daquelas mães que já saíam correndo da sala de parto rumo à farmácia para furar a orelha da filha. Fato que só aconteceu há alguns anos, porque EU quis.
Quanto ao meu pai, tivemos vários conflitos, mas nenhum deles por ele ser sexista. Ao contrário. Acredito que os conflitos existiam justamente pela liberdade que ele me dava em contradizê-lo, em contestá-lo. E, quando éramos pequenos, se tem uma imagem que até hoje é nítida nas minhas lembranças, é a dele dizendo com seu sotaque espanhol carregado: "Quando eu faltar, será sempre um pelo outro! Sempre um pelo outro..." virava-se para o meu irmão e continuava: "...você por ela..." virava-se para mim e concluía: "...e ela por você!" E assim tem sido até os dias de hoje.
Os nossos brinquedos refletiam muito essa ideologia dos meus pais. Geralmente eram brinquedos de uso comum. Muitos jogos, instrumentos musicais, (é, até que eles se esforçaram, mas a única coisa que toco hoje é o gato para fora de casa) bicicletas, bolas de futebol, vôlei, basquete...é claro que meu irmão tinha seus carrinhos e eu tinha minhas bonecas, mas compartilhávamos tudo. Não existia "brinquedo proibido". E depois, minhas bonecas até que tinham uma "certa personalidade". Me lembro de uma "bebezona preta" que fiz a minha mãe comprar no mercado e andava com ela o tempo todo debaixo do braço. Ai de quem mexesse nela!!
Livros também foram constantes na minha infância, graças a um ritual que a minha mãe, com a sua sagacidade (viu, Ricardo! É genético) introduziu na nossa rotina para que adquiríssemos o gosto pela leitura. Todas as vezes que as notas eram boas, já sabíamos: lanchinho num lugar bacana (não, "aquela lanchonete" nem existia na minha cidade, na época. Mesmo que existisse, desconfio muito que iríamos para lá) e depois, "feirinha de livros" para que cada um escolhesse o seu preferido. Nossa! A estante lá de casa era cheia de títulos: "O Menino do Dedo Verde", "João Sem Medo", "Se Será Serafina", A Bruxinha que era Boa", "A Árvore Generosa", "O Mistério do Cinco Estrelas", "O Rapto do Garoto de Ouro"... UFA! Ah, e muitas, muitas revistinhas!
Enfim, nunca tive uma Barbie, nem uma Susie. Muito menos meu irmão teve um Autorama ou um Falcon (Pois é, amigo! O futuro chegou!) Simplesmente meus pais não concebiam a idéia de que brinquedos tão sem possibilidades fizessem parte do nosso dia a dia só porque o apelo televisivo era grande. Não queriam atrelar a nossa felicidade, a nossa completude infantil ao fato de termos "tais brinquedos da moda". E quer saber? ELES ESTAVAM CERTÍSSIMOS! Não tivemos e não fizeram falta nenhuma. Só tenho a agradecê-los. Se nos dias de hoje, eu conseguir proporcionar aos meus filhos apenas a metade do que eles me proporcionaram, já terá valido a pena. Oxalá que eu consiga!
DIA 13 DE OUTUBRO, TEM BLOGAGEM COLETIVA NO BLOGUEIRAS FEMINISTAS. Quando estava acabando de escrever o meu post, li o excelente post da Débora, que também participa da blogagem coletiva. Ia postar aqui apenas um trechinho para que ficasse como um "convite" à leitura dos outros posts lá no Blogueiras no dia 13, mas como ela diz muita coisa que vai ao encontro do que eu acredito, e do que eu tinha acabado de escrever, achei melhor colocar o link para que quem quiser conferir o post todo: DO ALTO DO SALTO
Minha mãe não era daquelas mães que já saíam correndo da sala de parto rumo à farmácia para furar a orelha da filha. Fato que só aconteceu há alguns anos, porque EU quis.
Quanto ao meu pai, tivemos vários conflitos, mas nenhum deles por ele ser sexista. Ao contrário. Acredito que os conflitos existiam justamente pela liberdade que ele me dava em contradizê-lo, em contestá-lo. E, quando éramos pequenos, se tem uma imagem que até hoje é nítida nas minhas lembranças, é a dele dizendo com seu sotaque espanhol carregado: "Quando eu faltar, será sempre um pelo outro! Sempre um pelo outro..." virava-se para o meu irmão e continuava: "...você por ela..." virava-se para mim e concluía: "...e ela por você!" E assim tem sido até os dias de hoje.

Livros também foram constantes na minha infância, graças a um ritual que a minha mãe, com a sua sagacidade (viu, Ricardo! É genético) introduziu na nossa rotina para que adquiríssemos o gosto pela leitura. Todas as vezes que as notas eram boas, já sabíamos: lanchinho num lugar bacana (não, "aquela lanchonete" nem existia na minha cidade, na época. Mesmo que existisse, desconfio muito que iríamos para lá) e depois, "feirinha de livros" para que cada um escolhesse o seu preferido. Nossa! A estante lá de casa era cheia de títulos: "O Menino do Dedo Verde", "João Sem Medo", "Se Será Serafina", A Bruxinha que era Boa", "A Árvore Generosa", "O Mistério do Cinco Estrelas", "O Rapto do Garoto de Ouro"... UFA! Ah, e muitas, muitas revistinhas!
Enfim, nunca tive uma Barbie, nem uma Susie. Muito menos meu irmão teve um Autorama ou um Falcon (Pois é, amigo! O futuro chegou!) Simplesmente meus pais não concebiam a idéia de que brinquedos tão sem possibilidades fizessem parte do nosso dia a dia só porque o apelo televisivo era grande. Não queriam atrelar a nossa felicidade, a nossa completude infantil ao fato de termos "tais brinquedos da moda". E quer saber? ELES ESTAVAM CERTÍSSIMOS! Não tivemos e não fizeram falta nenhuma. Só tenho a agradecê-los. Se nos dias de hoje, eu conseguir proporcionar aos meus filhos apenas a metade do que eles me proporcionaram, já terá valido a pena. Oxalá que eu consiga!
DIA 13 DE OUTUBRO, TEM BLOGAGEM COLETIVA NO BLOGUEIRAS FEMINISTAS. Quando estava acabando de escrever o meu post, li o excelente post da Débora, que também participa da blogagem coletiva. Ia postar aqui apenas um trechinho para que ficasse como um "convite" à leitura dos outros posts lá no Blogueiras no dia 13, mas como ela diz muita coisa que vai ao encontro do que eu acredito, e do que eu tinha acabado de escrever, achei melhor colocar o link para que quem quiser conferir o post todo: DO ALTO DO SALTO
Amei amiga!!!
ResponderExcluirParabéns pelo Belíssima texto, eu sou do tempo do pião, bola de meia, bola de gude ... foram brincadeiras inesquecíveis !!!
ResponderExcluirVox", esse "belíssima" foi um ato falho?kkkk Apesar de vc ser mais velho do que eu (estava doida prá falar isso) também brinquei de tudas essas coisas. Hoje, o pião do meu filho é um "beyblade"...enfim,o futuro chegou e a gente precisa se adaptar para acompanhá-los, mas sempre tentando poupá-los da massificação e do consumo desenfreado.Obrigada pelo elogio e boa sorte com o seu "Voxpopuli Voxdei Guarujá".Bj! Clara Gurgel
ResponderExcluirTô aqui, eu tinha perdido minha lista de blogs, você já está lá de novo. Tô com saudade! Beijo!
ResponderExcluirPôxa,Zatônio!!! Pensei que tivesse me abandonado depois que descobri o segredo de São José dos Calçados. Não consigo mais nem postar no seu blog. O que é isso? Retaliação?! KKKKKK... Beijo! Clara Gurgel
ResponderExcluirAdorei essa genética...rsrs
ResponderExcluirbjs e, vamos "bater" em alguém...rsrs
Não consegue postar por quê?
ResponderExcluirNão sei o que acontece, Zatônio...deve ser "a lua de Marte entrando em Saturno"...rsrsr. Clara. Aliás, nem aqui estou conseguindo. Só como anônima.
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