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Enxofre

 Eu não preciso de um dia pra lembrar meus mortos. A constância do cheiro de enxofre que nos ronda nesses quase dois anos não me deixa esquecer dos que já se foram, e que ultimamente vão  de uma forma  que a maioria de nós sequer imaginou ser possível um dia. E aqui  ficamos com as perdas, com o hiato, imaginando aquilo que poderia ter sido, mas não será. Perdemos mais, perdemos quase dois anos. A vida suspensa a espera de. De que mesmo? Seguimos anestesiados e o que aflora agora não é um novo mundo de golfinhos em águas cristalinas,  ao contrário, o ódio não é mais latente, é constante e potente. No novo normal a estranheza não é boa. Não somos os mesmos e não somos melhores. O tiro saiu pela culatra. O tiro. Volto aqui comigo e sinto que roubaram algo irrecuperável, mas que mesmo assim todos já se adaptaram. É a vida. Ou foi  o medo da morte? Que ao invés de regenerar recrudesceu o que há de pior em nós? Espero pelo caos. Climatico, social, existêncial.  E como diria Darwin, quem for mais filha da puta que sobreviva!








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