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Mostrando postagens de dezembro, 2015

Tengo Ganas de Volar!

     Estava lembrando do meu velho. Se estivesse vivo completaria no dia seis, oitenta e seis anos. Numa ocasião, quando ele já tava bem ruinzinho, internado há mais de quarenta dias, entrou a enfermeira pra fazer aquelas perguntas de praxe. Mulher rude, soberba, sem um pingo de humanidade. Meu pai não gostava dela, exatamente por isso. Quando dizia: "Seu David, me dá o braço preu medir a pressão!" meu pai esticava o braço com a cara virada pro outro lado feito criança empacada,  enquanto ela, mais mecânica do que eficiente, continuava seu ritual de todas as manhãs: "Seu David, o que o senhor tá sentindo hoje?", até que meu pai nesse dia, de forma herege quebrando o sagrado daquela rotina infeliz que pouco, ou nada, parecia importar àquela mulher tão jovem e cheia de saúde, respondeu: "O que eu tô sentindo hoje? Vontade de voar! Anota aí na sua pranchetinha: vontade de voar!" A enfermeira explodiu em um discurso manjado de "estamos aqui para me