FIM DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER/ POST DE HOJE: "FEMINISMO É ESSA IDEIA RADICAL DE QUE MULHER TAMBÉM É GENTE!" (POR LUCIANA NEPOMUCENO)
O post de hoje do ativismo online pelo #FimDaViolênciaContraMulher, é da Luciana Nepomuceno, do blog Borboletas Nos Olhos e, na verdade, é um post "dois em um" (sempre intensa como só ela sabe ser). Esse texto que posto aqui hoje, é uma adaptação desse aqui, que ela fez para o Blogueiras Feministas. Desde já, recomendo a leitura dos dois. Luciana é uma das pessoas mais conscientes que eu conheço quando o assunto é "violência contra a mulher". Sabe exatamente a necessidade e a urgência que o tema implica, por ser (pelo menos, deveria ser) uma preocupação de todos nós, independente de gênero, raça ou classe social. Vamos ao texto:
A violência de gênero parece estar profundamente entrelaçada ao preconceito que se manifesta desde a forma como se lida com estupros, diferenças entre salários, jornada dupla para a mulher como nas aparentemente inofensivas piadas sexistas, nas situações de educação/lazer diferente para meninos e meninas, nas regras de comportamento sexual, etc.
ESSA IDEIA RADICAL
Estamos nos 5 dias de Ativismo Online pelo #FimDaViolênciaContraMulher e eu quero começar dizendo que sim, esse papo é com você. Não importa se você não é machista, violento/a, preconceituoso/a que está à parte do problema. A violência contra a mulher tem várias nuances e uma das mais cruéis é, na minha opinião, a naturalização desse fenômeno, seja em sua vertente explícita: quando os sinais de maus-tratos são evidentes e as pessoas desviam a vista e fecham as janelas pra não ouvir o barulho; seja na vertente sutil de diminuir, depreciar ou estigmatizar comportamentos, sentimentos e vivências relacionadas às mulheres.
O preconceito contra a mulher – face evidente da estrutura que legitima a violência – constitui-se de elementos cognitivos, afetivos e comportamentais. Começa com o pensamento circular e autorreferente de atribuição de atributos negativos a determinados grupos sociais - no caso, as mulheres – criando a ilusão de dependência, ignorância e objetificação da mulher. Esse tipo de pensamento é sustentado por um concomitante traço afetivo que associa, aos atributos negativos, avaliações e sentimentos negativos em relação ao grupo discriminado. A soma dos elementos cognitivos e afetivos subsidiam as práticas hostis e/ou persecutórias aos membros do grupo alvo do preconceito. Ou seja, sair xingando e apontando o dedo na cara (comportamento hostil) de uma mulher com quem se teve um acidente de trânsito, por exemplo, pode ter sido deflagrado pela naturalização do pensamento preconceituoso(mulher dirige mal) aliada ao sentimento negativo (não confio em mulher na direção, se ela estivesse em casa pilotando o fogão – ou seja, se comportando - essa vaca não causava problemas).
Os processos de socialização primária (família) e de socialização secundária (escola, principalmente) reforçam este tipo de construção simbólica sobre a mulher acentuando aspectos de fragilidade, incompetência e dependência, travestidos de sinais de cuidado e proteção. As ações violentas são legitimadas e potencializadas pelos processos de socialização que reificam as mulheres tais como os padrões moralistas de comportamento sexual, os valores ligados à aparência física, as demandas de posturas submissas, as exigências de convergirem com modelos de "boa mãe", "boa esposa", "boa amiga"...
Tal construção social não é dissociada da estrutura social de divisão do trabalho e incentivo ao consumo. Se um homem acredita que a mulher é um objeto para sua satisfação, uma coisinha a lhe dar prazer - seja estético, sexual ou conforto no lar - ele sente que ela lhe pertence, não vai sentir empatia, mas senso de propriedade e, na lógica capitalista de que um bem seu é seu para dispor como quiser, o comportamento violento emerge sem nenhuma censura. A violência contra a mulher permanecerá enquanto a sociedade mantiver a idéia de mulher como acessório, complemento, incompleta sem um homem que a mantenha.
Então, penso, não se pode fechar os olhos e fazer de conta que não é com a gente. Ser contra violência contra a mulher é bem mais que não levantar a mão para esmurrá-la, mas estar atento ao discurso e lutar, dia após dia, contra o sistema que nos escraviza a todos, dando-nos um lugar na estrutura que esvazia nossa humanidade e nos reifica.
A Luh é fora de sério!
ResponderExcluirÔH! Glorinha, acho que Caetano diria com seu sotaque baiano: "A Lú é linda!" rsrs
ResponderExcluirClara